Esporte

18/07/2021

Durante a ditadura empresarial-militar brasileira a propaganda ufanista foi ferramenta importante para a criação e manutenção da ideia de legitimidade. A Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP) criada em 15 de julho de 1968, sob o decreto de número 62.119. foi o principal órgão de comunicação do regime. A agência foi responsável pelos "slogans": "Você constrói o Brasil", "Ninguém segura este país", "Brasil, conte comigo", "Este é um país que vai pra frente", "Brasil, ame ou deixe-o" e "Prá frente Brasil", entre outros. O futebol, esporte mais popular no país, foi exaustivamente utilizado pelos propagandistas do regime tanto a fim de promover os ideais ufanistas, quanto para escamotear a repressão crescente.

Emilio Garrastazu Médici chegava à presidência em 30 de outubro de 1969. E o futebol acabou sendo uma das maneiras de tentar aumentar sua popularidade. Em um de seus primeiros atos relacionados ao futebol, Médici participou dos festejos pelo milésimo gol de Pelé. Meses depois, passou a dar seus pitacos sobre a Seleção, o que enfatizava ainda mais sua imagem como torcedor. Na declaração mais famosa, pediu Dario, o Dadá Maravilha do Atlético Mineiro na equipe nacional, recebendo a ríspida resposta de João Saldanha, quando o treinador foi indagado por jornalistas: "Eu e o presidente temos muitas coisas em comum. Somos gaúchos, gremistas, gostamos de futebol, e nem eu escalo o ministério, nem o presidente escala o time". Pouco tempo depois, Saldanha deixaria o cargo e entraria para a história como "João sem medo".
Foi no governo Médici (1969-1974) que a ditadura teve seu período de maior repressão que ficou conhecido na historiografia como os "anos de chumbo", tendo seu início com a promulgação do AI-5 em 13 de dezembro de 1968. Concomitantemente, o período também ficou conhecido o "Milagre Econômico", assim chamado pelo regime na época. Simultaneamente temos neste período, a maior repressão aos movimentos políticos contestatórios à ditadura, bem como o aumento das peças publicitárias produzidas pela AERP, com seus filmes sobre "milagre". É neste contexto sócio-político que o futebol foi utilizado pelo regime como ferramenta de propaganda, para escamotear a repressão, a tortura e o início da luta armada, assim como passar uma ideia de popularidade e legitimidade do regime.


Referências Bibliográficas:

Chaim, Aníbal Renan Martinot. A bola e o chumbo: futebol e política nos anos de chumbo da ditadura militar brasileira. São Paulo, 2014. Disponível aqui


Autor: Adriel Vargas, graduando em Sociologia pela Universidade Federal Fluminense, integrante da Linha de Pesquisa "Cinema e Ditadura em Plataforma Virtual", ligado ao grupo de pesquisa certificado no CNPq: "Subjetividade, Memória e Violência do Estado". Bolsista de Desenvolvimento Acadêmico (Proaes-UFF).


Filmes que dialogam com essa temática:
Pra Frente, Brasil - Roberto Farias (Drama, Brasil, 1982)

Democracia em Preto e Branco - Pedro Asbeg (Documentário, Brasil, 2014)

LACE - Laboratório de Agenciamentos Cotidianos e Experiências - 2020 
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