Comissão Nacional da Verdade

11/07/2021

Figura 1: Foto de Fabrício Faria- Site da Comissão Nacional da Verdade

A história da instauração da Comissão da Verdade no Brasil começa com a luta dos desaparecidos da Guerrilha do Araguaia. Foi por intermédio de um relatório expedido 2009, em nome deste movimento, que o Brasil foi condenado através de uma sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos a cumprir várias recomendações para implementação de ações para investigar, processar e punir as violações de direitos humanos ocorridas no país, além da possibilidade de uma revisão da Lei da Anistia e da instauração de uma Comissão da Verdade como mecanismo para elucidação da verdade sobre os fatos. "A Comissão Nacional da Verdade foi criada pela Lei 12528/2011 e instituída em 16 de maio de 2012. A CNV tem por finalidade apurar graves violações de Direitos Humanos ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988" (site CNV). A instalação da Comissão Nacional da Verdade foi considerada uma grande vitória e uma esperança aos que aguardam por mais de 40 anos a revelação da verdade sobre as violências e atrocidades cometidas durante a Ditadura Civil-empresarial-militar e a busca pela justiça para as vítimas, para os mortos, para os desaparecidos, e finalmente, para suas famílias.

O que se esperava da comissão era localizar as vítimas, saber como foram vitimadas, os autores dos crimes cometidos pelo Estado Brasileiro e o julgamento dos mesmos nos trâmites da lei cumprindo um papel fundamental na sociedade brasileira: o de esclarecer os fatos, punir os criminosos e corrigir injustiças. As reparações que realmente importam para resolver as lacunas abertas da nossa história.

Contudo, como levanta uma nota do "Grupo Tortura Nunca Mais", a Comissão não teve plenos poderes, teve restrito o período de investigação, poucos integrantes, não teve orçamento e o sigilo foi garantido, o que impedia uma atuação e divulgação ampla e irrestrita sobre os arquivos militares do período em que vigorou a ditadura para possibilitar efetivamente a responsabilização dos agentes do Estado. Sendo assim, o que restou às entidades e familiares que mantém a luta em busca de justiça, foi o sentimento de que a Comissão da Verdade, assim como a Lei da Anistia, não passou de uma farsa que não cumpriu seu papel de promover a devida reparação dos crimes cometidos durante a ditadura.

Segundo o site da CNV, em 10 de dezembro de 2014, o relatório final -composto por 3 volumes- foi entregue à presidenta Dilma Roussef como resultado de 2 anos e 7 meses de trabalho. Segundo este relatório, a Comissão colheu 1121 depoimentos (sendo 132 de agentes públicos), realizou 80 audiências e sessões públicas, determinou diligências investigativas e perícias, identificou 1 desaparecido, revelou as circunstâncias de morte de 434 vítimas e visitou 7 unidades militares onde foram praticadas torturas e violações de direitos humanos. Contudo, no site da Comissão Nacional da Verdade, não constam as consequências objetivas diante dos fatos relatados no relatório.

"A CNV brasileira não julgou os crimes cometidos durante a ditadura, estimulada pela Lei da Anistia de 1979, que perdoou crimes de motivação política. Ao contrário, países como Alemanha, Peru, Argentina, entre outros, tiveram seus processos julgados e as pessoas punidas, a fim de evitar o esquecimento, pela população, de parte importante da história do país. " (Site Politize)

O Brasil foi um dos últimos países a instaurar uma Comissão da Verdade. Mais de 30 países, inclusive países da América Latina, já agiram em função de reparar as violências cometidas pelo Estado e promover justiça às famílias e às vítimas de violências e violações dos diretos humanos. A Comissão da Verdade entra então para história como mais um episódio de frustração em busca de reparação histórica e justiça para um dos períodos mais hediondos vividos em nosso país.


Autora: Ana Cláudia Bessa, graduanda em Sociologia pela Universidade Federal Fluminense, pesquisadora, integrante da linha de pesquisa "Cinema e ditadura em plataforma virtual", vinculado ao grupo de pesquisa certificado no CNPq: "Subjetividade, Memória e Violência do Estado".


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre Caso Gomes Lund e outros (Guerrilha do Araguaia). Disponível em : Grupo Tortura Nunca Mais. Acessado em 04/06/2020.

Comissão Nacional da Verdade. Site oficial. Disponível em: CNV. Site acessado em 04/06/2020.

Becker, Alberto Henrique; Almeida, Angela Mendes de; Kucinski, Bernardo; Molina, Celso Carvalho & Teles, César Augusto. Carta Aberta à Comissão Nacional da Verdade. São Paulo: Site Grupo Tortura Nunca Mais, 2012. Disponível em: Grupo Tortura Nunca Mais  . Acessado em 04/06/2020.

Diretoria do GTNM/RJ. Nota do GTNM/RJ na formação da Comissão Nacional da Verdade. 2013. Disponível em: Grupo Tortura Nunca Mais . Acessado em 04/06/2020.

Conheça e acesse o relatório final da CNV. Site oficial. Acessado em 04/06/2020.

Ponchirolli, Rafaela. O que é a Comissão Nacional da Verdade? . Disponível em: Politize! Acessado em 04/06/2020.

Links Relacionados:

Lei da Anistia

 

Filmes Relacionados:

Desaparecidos https://cinemaeditadura.com.br/desaparecidos/

Valas Clandestinas e a busca dos desaparecidos pelo DNA https://cinemaeditadura.com.br/valas-clandestinas-e-a-busca-dos-desaparecidos-pelo-dna/

Zuzu Angel https://cinemaeditadura.com.br/zuzu-angel-2/

Militância https://cinemaeditadura.com.br/militancia/

LACE - Laboratório de Agenciamentos Cotidianos e Experiências - 2020 
Desenvolvido por Webnode
Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora